Por Ricardo Lopes e Rafael Mantuano
A indústria da construção civil é, tradicionalmente, um dos setores mais lentos
para aceitar inovações. No entanto recentemente tem se caracterizado por um acelerado
desenvolvimento e crescente evolução das técnicas construtivas e do uso de
novos materiais e produtos.
No
caso da alvenaria houve uma profunda mudança na maneira de construir, pois
antigamente as alvenarias eram utilizadas como elemento resistente e de vedação
e a sua estabilidade e resistência eram definidos em função de sua geometria.
Tradicionalmente pesadas, espessas e rígidas, as alvenarias evoluíram para
lâminas consideravelmente delgadas dos nossos dias (THOMAZ, 2001).
Hoje,
os edifícios são mais altos e esbeltos, a concepção privilegia grandes vãos, há
menos pilares e as lajes apresentam espessura reduzida. Essas características,
sem dúvida, trouxeram implicações e tornaram as estruturas mais deformáveis,
introduzindo nas alvenarias maiores tensões.
Com
o advento de blocos vazados, tanto de cerâmica como de concreto mais resistente
e dimensões maiores, a capacidade das alvenarias absorverem as deformações foi
reduzida. De fato, isso colaborou para o surgimento das patologias sem que
estas mudanças fossem estudadas, aumentando sua exposição à possibilidade de
ocorrência de fissuras.
As
fissuras em alvenaria das edificações são um alerta de que algo errado está
acontecendo, podendo comprometer a estanqueidade à água, o isolamento acústico
e em alguns casos até a estrutura do edifício.
A
fissuração é um fenômeno que tem origem em falhas técnicas, afetando muitas
vezes o desempenho das alvenarias. Nesse sentido, novos conceitos quanto à
qualidade e desempenho das construções, direitos dos consumidores, satisfação
dos usuários, certificados de qualidade e conformidade, competição empresarial
e produtividade têm sido introduzidos, exigindo a busca constante de melhorias
em todas as etapas do processo construtivo.
Inspecionar,
avaliar e diagnosticar as patologias da construção são tarefas que devem ser
realizadas sistematicamente e periodicamente, de modo que os resultados e as
ações de manutenção devem cumprir efetivamente a reabilitação da construção
sempre que necessária.
Segundo
IOSHIMOTO (1988) apud MAGALHÃES (2004), o estudo sistemático dos problemas
patológicos a partir de suas manifestações características permite um
conhecimento mais aprofundado das causas, subsidia os trabalhos de recuperação
e manutenção e contribui para um maior entendimento de cada uma das etapas dos
processos de produção das edificações, possibilitando a adoção de medidas
preventivas.
Nesse
sentido, este trabalho tem como objeto estudar os detalhes construtivos que
visem à prevenção de fissuras em alvenarias de vedação e estruturais.
Os
materiais e elementos construtivos apresentam movimentações causadas por
esforços internos e externos em uma construção. As inter-relações entre seus
diversos elementos constituintes podem transmitir movimentações e esforços de
uns para os outros. Restrições a estas movimentações podem causar tensões
internas nos elementos construtivos que resultam em fissuras (Brick Industry
Association, 1991, apud MAGALHÃES, 2004). As fissuras são originadas quando as
cargas atuantes ultrapassam a capacidade resistente da estrutura solicitada
(ELDRIDGE, 1982 apud MAGALHÃES, 2004).
Os
componentes da alvenaria e as juntas de argamassa são os principais elementos
constituintes das alvenarias e, por sua condição de material pétreo, apresentam
bom comportamento frente às solicitações de compressão, o mesmo não ocorrendo
em relação às solicitações de cisalhamento, tração e flexão. Por esse motivo, a
ruptura de elementos de alvenaria costuma produzir-se segundo superfícies
normais à rede de esforços de tração atuantes (MANÃ, 1978, apud MAGALHÃES,
2004), que podem ser originados por esforços ortogonais de compressão, esforços
de cisalhamento ou tração direta (DUARTE, 1998 apud MAGALHÃES, 2004).
As
fissuras em alvenaria podem ser causadas por diversos fatores, dentre eles a
ausência ou má execução de detalhes construtivos. Segundo THOMAZ E HELENE
(2000), os projetos de alvenarias normalmente têm se restringido ao
comportamento mecânico e à coordenação dimensional com outros elementos.
Serão
estudados a seguir alguns detalhes construtivos a serem considerados nas
alvenarias, que têm como intuito minimizar ou eliminar a ocorrência de
fissuras.
As
alvenarias do último pavimento normalmente são muito solicitadas pelas
movimentações térmicas da laje de cobertura, sujeita a variações de temperatura
significativas. Dentre as situações em que se deve especificar a junta de
movimentação, o encontro entre alvenaria estrutural e laje de cobertura merece
particular importância.
Segundo Basso, et. al. (1997) apud VILATÓ e
FRANCO (1998), o processo de fissuração que ocorre nas alvenarias estruturais
que sustentam a laje de cobertura está motivado por diferentes fatores, tais
como: diferença entre os módulos de elasticidade e coeficiente de dilatação
térmica dos materiais que compõem a laje e as paredes; diferentes solicitações
pelas ações térmicas a que estão submetidas a laje e a parede; e a vinculação
que as paredes impõem à movimentação da laje. Esta situação é agravada pelo
fato das paredes abaixo da cobertura serem submetidas a menores tensões de
compressão, enquanto a laje está sujeita à maior solicitação térmica.
Segundo BASSO et al. (1997) citado por
MAGALHÃES (2004), a configuração destas fissuras é tipicamente horizontal, na
interface entre a alvenaria e a laje de concreto armado, ou um pouco mais
abaixo conformando uma linha paralela à laje. A ação da variação de temperatura
sobre a laje gera dois efeitos: provoca variações dimensionais no plano da laje
(comportamento de membrana) e curvaturas da superfície da laje (comportamento
de placa). Essas movimentações introduzem tensões de tração e cisalhamento nas
alvenarias, completando seu mecanismo de ruptura.
A Figura 1 apresenta um esquema de formação
de fissuras na alvenaria em contato com a laje de cobertura, devido à dilatação
térmica da laje.
Segundo THOMAZ e HELENE (2000), alguns
cuidados como sombreamento, ventilação dos áticos e isolação térmica da laje de
cobertura podem minimizar a ocorrência de patologias. No entanto, segundo os
mesmos autores, soluções mais eficazes exigem a execução de juntas de dilatação
na laje ou mesmo a utilização de apoios deslizantes (neoprene, teflon, manta
asfáltica, entre outros) entre a última fiada de alvenaria e a laje de cobertura.
A Figura 3 mostra exemplo de solução adotada
para junta de dessolidarização entre alvenaria estrutural (parede interna) e
laje de cobertura, através da utilização de material redutor de atrito. A
Figura 4 mostra o mesmo detalhe, mas específico para alvenaria externa com laje
sem beiral.
O material redutor de atrito utilizado foi a
manta asfáltica com 3mm de espessura, sobreposta em 3 camadas na largura do
bloco de concreto, com as faces cobertas com filme de polietileno deslizante.
Este material permite a movimentação da laje e da alvenaria sem que ocorra a
transferência de tensões significativas entre esses elementos.
No caso da Figura 4, para alvenarias
externas, utilizou-se o EPS como material deformável, cujo objetivo é evitar a
transferência de tensão da laje para o bloco de concreto.
A Figura 5 mostra o posicionamento do material redutor de atrito sobre as alvenarias, antes da concretagem da laje, permitindo a expansão da laje sem transmissão de esforços significativos para a alvenaria.
De acordo com THOMAZ e HELENE (2000), para evitar grandes solicitações às alvenarias devido à retração do concreto da laje de cobertura, no caso de não terem sido previstas juntas de dilatação, pode-se adotar juntas de retração provisórias, conforme mostradas na Figura 6. Neste caso, deve-se deixar trechos da laje sem concretar (juntas provisórias), sendo estes preenchidos com concreto sete a dez dias após. Essas juntas permitem que ocorra a retração do concreto em panos de laje menores, minimizando seus efeitos sobre as alvenarias, sendo posteriormente consolidadas.
Segundo LOTURCO (2005), algumas ações com o
objetivo de diminuir a movimentação da laje e desvincular a estrutura da
alvenaria minimizam a ocorrência de patologias. Os projetos devem prever:
·
Sombreamento;
·
Camada
de isolamento térmico;
·
Cura
controlada;
·
Impermeabilização;
·
Seccionamento
da laje (juntas);
·
Junta
de movimentação entre viga e alvenaria;
·
Entelamento
- quando se deseja continuidade do revestimento;
·
Fixar
molduras de acabamento apenas na parede;
·
Executar
junta deslizante no apoio da laje na alvenaria estrutural.
Encunhamento
Os primeiros registros do uso do encunhamento
no Brasil constam da década de 30, logo após o surgimento das primeiras
edificações em concreto armado. A primeira técnica de encunhamento foi com
blocos cerâmicos de vedação inclinados a 45º, conforme a Figura 7. Em seguida
veio o encunhamento feito com tijolos maciços nesta mesma posição, uma técnica
ainda muito utilizada principalmente fora dos principais centros e nas
construtoras de pequeno e médio porte.
Nos útimos anos diferentes materiais surgem
como opções para a execução do encunhamamento. Devido à existência de
edificações cada vez mais esbeltas e estruturas cada vez mais flexíveis, SAYEGH
(2007) sugere a aplicação de materiais mais resilientes como:
·
Argamassa
resiliente (massa podre) com baixo módulo de elasticidade;
·
Tijolos
de barro cozido que possuam baixo módulo de elasticidade;
·
Argamassas
com elastômeros;
·
Placas
de Neoprene;
·
Cortiça
ou isopor;
·
Poliuretano
expandido.
De acordo com THOMAZ e HELENE (2000), para
que não ocorra a transmissão de carregamentos entre os pavimentos, é
recomendável retardar ao máximo as atividades de elevação das alvenarias e o
encunhamento das paredes. Transcorrido determinado prazo após a execução das
alvenarias, pode-se adotar o encunhamento em pavimentos alternados, da seguinte
forma: encunham-se dois pavimentos e pula-se o próximo, de forma a abrir
frentes para trabalhos internos (revestimentos, etc.).
Além disso, o encunhamento deve ser feito
primeiro no pavimento superior e depois no inferior, evitando que seja
transferida carga para a alvenaria.
Apesar dos avanços em novos materiais e novas
técnicas as edificações continuam sofrendo manifestações patológicas, dentre
elas está o aparecimento de fissuras horizontais na ligação entre a alvenaria e
a estrutura. As fissuras no encunhamento são transferidas para o revestimento
de argamassa. Isso permite a entrada de agentes patológicos, diminui a
durabilidade e ainda provoca constrangimentos psicológicos aos usuários, devido
aos problemas estéticos ocasionados. Para solucionar este problema a principal
indicação é o uso de materiais mais resilientes, como a chamada massa podre
(argamassa com baixo módulo de deformação).
Com a indisponibilidade cada vez maior e o
custo elevado de tijolos de barro somando-se às dificuldades com a produção de
traços de argamassa com resiliência suficiente, o mercado tem buscado soluções
alternativas, mais competitivas e com melhor desempenho.
Case: Residencial Sicília
A
infiltração externa, proveniente de trincas na região de encunhamento entre
alvenaria e estrutura nas fachadas, apresentou-se como a patologia de maior
grau de dificuldade nos reparos executados pelo setor de manutenção. Durante o
período de chuvas de grandes intensidades, a água infiltrava pelas fissuras das
juntas de trabalho do revestimento, umedecendo por completo a parede interna
dos apartamentos localizados nesta fachada. O fato de o reparo ter sido feito
dentro do imóvel, através da raspagem e re-pintura, não se provou eficaz.
A Figura 8 mostra umas das técnicas de encunhamento estudadas.
Através do uso de dispositivos (isopor,
tarucel) no espaço entre alvenaria e fundo de viga, procura-se interromper a
percolação da água através da alvenaria, devido à pressão gerada pela água de
chuva impulsionada pelo vento.A existência do dispositivo “aliviador” de pressão (espuma de poliuretano – Tarucel), atuaria como um dissipador de energia, fazendo com que a água que anteriormente “percolava” pela argamassa, seja interrompida no interior da região do encunhamento, isolando assim a umidade externa do interior do imóvel.
A Tabela 1 mostra um quadro comparativo de prós
e contras de cada processo de encunhamento entre alvenaria de vedação e
estrutura de concreto armado.
Análise de custo
Para cada uma destas alternativas mostradas
na Tabela 1, foi analisado o quesito custo final por metro linear envolvendo o gasto
de material e homem/hora. Os valores de cada material e custo de mão-de-obra
foram tomados na região da cidade do Rio de Janeiro, podendo estes sofrer
variações dependendo da região. Os valores de traços, homem/hora e consumo
foram obtidos através do livro TCPO da PINI, sites da Internet e arquivos de
procedimentos e custos da empresa Carmo & Calçada. Foram criadas tabelas para cada opção listada na Tabela 1, visando facilitar a comparação entre os sistemas. Na Tabela 2 foi analisada a opção com tijolo maciço. Na Tabela 3 foi considerada argamassa industrializada. Na Tabela 4 utilizou-se argamassa com aditivo expansor, e na Tabela 5 mostra o custo de encunhamento feito com argamassa industrializada e tarucel.
\

Considerando que a obra em análise tem
3.467,52 metros lineares de encunhamento de alvenaria de fachada, o custo total
de cada alternativa seria dado pela Tabela 6.
A partir da análise dos valores mostrados nas
Tabelas 2 a 6, a opção de encunhamento utilizando tijolo maciço apresentou
valor final muito acima dos valores encontrados para as demais opções.
Os demais sistemas apresentam custos muito
próximos e devem ser avaliados caso a caso em função da mão-de-obra,
disponibilidade de materiais e prazos de execução.
Segundo Medeiros; Franco (1999) a tendência
de projetar estruturas cada vez mais esbeltas, avanços na tecnologia do
material, velocidades de execução cada vez maiores, crescente redução de custos
nas obras e atuação de sobrecargas importantes a idades cada vez menores têm
sido responsáveis pela ocorrência de problemas nas alvenarias e seus
revestimentos. A fissuração de paredes é o problema patológico mais comum
nestas situações.
Helene (1988) Salienta que na distribuição
relativa de incidência de manifestações patológicas a fissuração representa 21%
entre os sintomas mais comuns e de maior incidência.
Medeiros; Franco (1999) Desenvolveram estudos
experimentais e propuseram parâmetros e detalhes construtivos a serem
considerados nos projeto de alvenaria e estruturas para evitar uma parte
importante destas fissuras. O uso das telas metálicas eletro-soldadas foi
avaliado em ensaios de laboratório através de dois diferentes procedimentos,
onde foram determinadas as resistências à tração das ancoragens inseridas
dentro de juntas de argamassa de prismas de alvenaria. Este ensaio é similar
àquele especificado pela ASTM E754/94, tendo sido acrescentado um nível
determinado de pré-compressão para simular o peso próprio e as tensões
normalmente surgidas devido a ação da flexão da viga ou laje que restringe
superiormente a parede.
Foram conduzidos também ensaios de paredes em
escala natural para determinar o desempenho das ancoragens na ligação de
paredes e pilares de concreto armado. Neste caso foram empregados balanços
pré-fabricados de concreto armado como elemento de apoio das paredes. Os
resultados mostraram que as telas metálicas eletro-soldadas de arame
galvanizado podem ser empregadas para prevenir fissuras de interface entre
alvenaria e pilar, devendo-se respeitar para isso, limites de flechas máximas
do elemento de suporte (viga ou laje).
Embora o desempenho das telas seja muito
dependente do número, dimensões e do tipo de fixação empregados, elas
demonstraram ser capazes também de reduzir sensivelmente a influência da
mão-de-obra quando comparadas a outros dispositivos empregados para esta
finalidade (ferro cabelos e fitas metálicas).
Os ensaios também permitiram mostrar que os
critérios de projeto de estrutura e alvenaria de vedação devem ser revistos de
modo a considerar os efeitos de deformações excessivas nas alvenarias e em seus revestimentos de modo a prevenir
parte das fissuras hoje observadas.
Sabbatini (2003) destaca os componentes
metálicos para reforço e distribuição de tensões, como fios, barras e telas de
reforço que podem ser utilizados como amarração indireta, sendo imersos em
juntas de argamassas,
As paredes de alvenaria de vedação têm como
principal função proteger os ambientes e o próprio edifício, cumprindo os
requisitos estabelecidos em projeto.
No mesmo sentido, Thomaz e Helene (2000 apud
Richter, 2007) argumentam que as juntas de assentamento em amarração facilitam
a redistribuição de tensões provenientes de cargas verticais ou introduzidas
por deformações estruturais e movimentações hidrotérmicas.
Patologias Fissuras e outros problemas nas
alvenarias de paredes costumam gerar altos custos de recuperação, transtornos e
problemas de ordem diversa, principalmente a insatisfação dos proprietários.
Entre as várias situações possíveis de
emprego de reforços para evitar fissuras está à ligação de paredes com pilares
da estrutura. Estas fissuras ocorrem com freqüência importante, principalmente
nas situações em que os deslocamentos dos elementos de apoio das paredes são
significativos.
Para ancorar as paredes e prevenir as
fissuras de interface são empregados tradicionalmente os chamados ferros cabelos
- fios de aço para concreto armado de espessura ente 4 e 6 mm.Segundo Thomaz e Helene (2000), como regra geral as ligações com os pilares poderão ser executadas com ferros de espera introduzidos na armadura do pilar (ferros dobrados faceando a forma internamente), ou com “ferro cabelo” posteriormente colados em furos executados por brocas de vídea Ø 8 mm (colagem com resina epoxy); recomenda-se adotar dois ferros Ø 6 mm a cada 40 ou 50 cm, com transpassante em torno de 50 cm. Canaletas assentadas na posição dos “ferros cabelo”, posteriormente preenchida por micro-concreto, produzem ligações fortes e absorvem diferenças no posicionamento dos ferros em relação as fiadas. A ligação ainda poderá ser reforçada com inserção de tela metálica na argamassa de revestimento.
Figura 12 mostra duas opções para execução
de ferro cabelo: : Ligações entre alvenarias e pilares
com gancho de aço de dois ramos ou com auxílio de blocos tipo canaleta
(THOMAZ, et al., 2009)
Atualmente tem se utilizado as telas
metálicas eletro-soldadas de arame de pequeno diâmetro (até 2,1 mm).
A colocação das telas deve seguir orientação
do projeto de alvenaria de vedação e obedecer alguns cuidados para garantia da
amarração. O objetivo é criar uma ligação que impeça o descolamento da
alvenaria em relação ao pilar e, ao mesmo tempo, reduza as tensões na argamassa
de assentamento.
A Figura 14 mostra o correto posicionamento
da tela na junta da argamassa. Importante observar esse posicionamento, pois no
momento em que a alvenaria se desloca em relação ao pilar, a ligação entre
ambos é solicitada. Neste momento a tela começa a trabalhar, evitando o
aparecimento de fissuras. Caso a tela seja fixada no pilar sem coincidir com a
junta da alvenaria, a tela irá se deslocar antes de começar a trabalhar,
permitindo o surgimento da fissura.
As telas soldadas têm encontrado espaço para
utilização na construção devido principalmente às suas vantagens relativas à
produtividade na execução. Elas têm se mostrado bastante competitivas quando
comparadas às armaduras montadas no local, pois permitem maior precisão no
espaçamento dos fios das malhas para armadura devido ao seu processo
automatizado de produção, reduzindo substancialmente as perdas em obras, como
destaca BAUMANN (1993).
As telas soldadas empregadas conjuntamente
nas amarrações entre paredes e nas ligações de paredes com pilares podem
representar um ganho de produtividade na execução das alvenarias entre 20 e 40
% quando comparadas às soluções convencionais com ferro cabelo e amarrações com
blocos.
As telas também facilitam a amarração entre
paredes construídas com blocos de diferentes dimensões ou ainda em amarrações
de paredes com ângulos diferentes de 90º. O mesmo acontece nas situações onde
as amarrações entre paredes e encontros com pilares são de difícil execução
como espaletas (bonecas), peitoris, paredes de meia altura e paredes de escada.
Devido a sua facilidade de corte e manuseio,
ancoragem adequada à argamassa de assentamento e desempenho compatível com
esforços de tração, as telas se prestam também as situações onde o projetista
pretende tornar a paredes mais resistentes à fissuração, podendo armar as
juntas horizontais para combater estes esforços. Assim, podem-se utilizar as
telas como armadura de paredes de vedação sujeitas à flexão no sentido paralelo
ao seu plano principal, evitar fissuração precoce de paredes apoiadas sobre
vigas e lajes em balanço ou em vigas e lajes de grandes vãos que apresentem
deformabilidade significativa.
PFEFFERMAN, HASELTINE (1992) desenvolveram
alguns estudos através dos quais demonstraram o potencial de uso de armaduras
com fios transversais para melhorar o desempenho mecânico das alvenarias. Seus
resultados demonstraram ser possível aumentar entre 50 e 100 % o comprimento de
paredes usando reforços de juntas para combater fissuração. O desempenho das
paredes submetidas à flexão devido ao deslocamento do suporte, no caso vigas e
lajes de concreto armado.
Estes autores recomendam o uso de reforços
nas juntas para situações como:
·
Reforços
das primeiras 3 a 5 juntas horizontais para impedir a formação de fissuras
devido a pequenos recalques de fundação;
·
Nas
juntas acima e abaixo de aberturas de janelas e acima de portas para evitar
fissuras devido a concentração de esforços;
·
Como
substituição de vergas e contravergas nas alvenarias aparentes;
·
Como
opção para a armação de paredes para combater flexão devido à ação do vento,
observando as recomendações normativas de projeto.
·
Embora as telas possam funcionar também para
combater esforços de cisalhamento como aqueles que ocorrem nas regiões dos
cantos de aberturas de acordo o NCMA (1972), há limitações quanto ao uso para
estas finalidades.
BEALL (1987) observa que as ancoragens
construídas com tela resistem bem melhor à tração do que ao cisalhamento
devendo ser consideradas conectores flexíveis. Assim deve-se considerar,
portanto, seu efeito limitado para situações onde esforços de cisalhamento são
concentrados e de grande magnitude, como são os casos de paredes duplas de
fachadas de edifícios em que a lâmina exterior constitui-se em uma cortina
ancorada no nível de cada laje por meio de conectores metálicos, de forma a
garantir estabilidade. Neste caso barras e chapas com desenhos apropriados são
recomendados devido à maior resistência a esforços cortantes. Abaixo são apresentadas resumidamente, as vantagens relativas das telas quanto ao desempenho e quanto ao uso como reforço e ligação entre paredes de alvenaria e pilares de concreto armado, quando comparadas com a solução tradicional através de ferro cabelo.
Fixação das alvenarias de vedação em estruturas
de concreto
Quando a alvenaria é executada depois da
estrutura são observadas fissuras na interfase alvenaria/estrutura devido à
diferença de módulo de elasticidade dos materiais constituintes.
Alguns cuidados são recomendados como
observar quais os vínculos previstos entre a parede de alvenaria e estrutura a
fim de se definir os materiais e técnicas:
·
A
alvenaria funciona como travamento da estrutura;
·
A
alvenaria não funciona como travamento e a estrutura que a envolve é deformável
(pré-fabricados e grandes pórticos, lajes tipo cogumelo);
·
A
alvenaria não funciona como travamento e está envolta por estrutura pouco
deformável.
No caso “1” é necessário que exista uma
ligação efetiva e rígida entre elas. As paredes estarão submetidas a um estado
de tensão que lhes serão transmitidas pela estrutura. Devem, portanto
apresentar resistência mecânica compatível com as solicitações e a forma de
fixação deve garantir o grau de ligação. O chapisco (argamassa de cimento e
areia mais um adesivo de argamassa) é imprescindível, pois falta aderência
neste ponto. Na parte superior da alvenaria deve ser executado, além do
chapisco, o encunhamento utilizando cunhas pré-fabricadas de concreto, tijolos
cerâmicos inclinados ou argamassa expansiva Para fixação lateral devem ser
previstas barras chamadas de “ferro cabelo” ou telas de aço previamente fixadas
nos pilares e a solidarização é feita durante a elevação da alvenaria.
No caso “2” cada tipo de estrutura deve ser
estudado separadamente. De modo geral procura-se executar as juntas com
material bastante deformável (mastiques elásticos), que permita a movimentação
da estrutura sem introduzir esforços de grande amplitude na alvenaria. Nestes
casos o “ferro cabelo” deve ser fixo na estrutura de concreto e livre na alvenaria,
possibilitando a movimentação do painel.
No caso “3” panos pouco extensos, pórticos
rígidos, o importante da fixação, desde que a junta seja frágil, é tempo
correto de sua execução. Esta não deve se dar imediatamente após término da
elevação da alvenaria.
Quanto ao tipo de ligação, para as alvenarias
de vedação, torna-se necessário que seu funcionamento seja compatibilizado com
o da estrutura devido principalmente às diferenças de comportamento dos
materiais. O encunhamento rígido pode submetê-la a um estado excessivo de
tensão e provocar fissuras. Assim a fixação da alvenaria à estrutura deverá ser
inicialmente fraca. No encontro vertical (com os pilares) normalmente ocorrem
juntas “auto-deformáveis” que, provavelmente, se manifestarão também no revestimento.
Nestes casos pode-se especificar o acabamento frisado para as juntas ou a
aplicação de telas na região da junta, evitando que esta se manifeste no
revestimento.
Juntas de controle:
As juntas de controle têm por finalidade
limitar as dimensões dos painéis de alvenaria de forma a evitar concentrações
de tensões decorrentes da variação volumétrica, de origem higroscópica
(absorção e liberação de água) e também variações térmicas dos elementos que a compõem.
THOMAZ (Téchne, 1995) esclareceu, sobre os
atributos considerados nos componentes de alvenarias.
·
Movimentações
térmicas: frente a oscilações da temperatura, os materiais constituintes dos
blocos apresentam diferentes variações dimensionais, podendo induzir
destacamentos entre alvenaria e estrutura (paredes de vedação) ou entre paredes
ligadas com juntas a prumo; as pinturas externas das paredes influenciarão
decisivamente a escala das movimentações (quanto mais escura a cor, maior
absorção de calor, maiores as movimentações térmicas).
·
Tamanho
do bloco e flexibilidade da parede: como regra geral, a capacidade das
alvenarias absorverem deformações impostas (recalques, etc.) é regida pelas
juntas (deformabilidade da argamassa, tipo de junta) a prumo ou em amarração,
espessura e quantidade de juntas; para idênticas condições de assentamento,
portanto, quanto maior a dimensão do bloco, menor o número de juntas e,
comparativamente, menor o poder de absorção de movimentações.
Sua aplicação também ocorre quando da necessidade da desvinculação de diferentes painéis de alvenaria, os quais apresentem solicitações diferentes, de forma tal que as fissuras sejam evitadas, conforme mostrado na Figura 15.
A correta disposição das juntas de controle é
um dos aspectos de maior importância na prevenção de problemas patológicos nas
edificações. A partir da identificação
de sua necessidade, a sua utilização é recomendada nos casos onde ocorrem:
·
Variações
bruscas na altura dos painéis de alvenaria:
·
Onde
há variação na espessura da alvenaria:
·
Próximo
às intersecções de paredes em L, T ou U:
A determinação do espaçamento entre as juntas
de controle depende de diversos fatores, dentre as quais estão propriedades dos
componentes, fatores climáticos, tipo de argamassa, condições de exposição da
alvenaria e suas restrições vinculares, carregamentos, etc. CAVALHEIRO (2004)
apresenta as recomendações gerais no quadro abaixo:
Normalmente utilizam-se juntas de controle
com espessura e=10 mm, de forma que a junta de controle tenha espessura
semelhante à da argamassa.
Existem juntas de controle de expansão ou
controle de retração. As juntas de controle de expansão ocorrem geralmente em
alvenarias de blocos cerâmicos, onde o volume de umidade tende aumentar quando
ocorre absorção de água.
Já as juntas de retração ocorrem geralmente
em alvenarias de blocos de concreto, onde há tendência de redução de volume
quando ocorre evaporação de água.
Dessa forma,
diferentes soluções de selagem de juntas são aplicadas, de acordo com a
movimentação esperada.
Juntas de dilatação:
Sua função é absorver movimentações
estruturais decorrentes de variações de temperatura. A junta de dilatação
intercepta paredes, lajes, vigas, pilares, de forma diferente das juntas de
controle que interceptam apenas os painéis de alvenaria conforme indicado na
figura abaixo.
A norma NBR 10837 (ABNT, 1989) determina que
a distância máxima entre juntas de dilatação deve ser de 20 metros nos
edifícios de alvenaria estrutural não armada e 30 metros em edifícios de
alvenaria estrutural armada.
Para Parsekian et al (2007) um fator que pode
reduzir o potencial aparecimento de fissuras de retração é a utilização de
juntas de controle. De acordo com o autor, as juntas permitem que as
deformações ocorram livremente, sem o aparecimento de tensões.
De acordo com a NBR 10837 (ABNT 2000), a
utilização de juntas de controle tem por finalidade básica permitir
deslocamentos devidos à retração e secundariamente às variações de temperatura.
Tais juntas devem ser empregadas da seguinte forma:
·
Locais
onde a altura ou carga da parede varia bruscamente;
·
Locais
de variação de espessura da parede (não sendo por conta de enrijecedores);
·
Em
paredes onde há brusca mudança de direção e que, em planta têm a forma de “L”,
“T” ou “U”.
Nesses locais devem ser obedecidas as
seguintes condições:
·
A
junta deverá ser contínua ao longo de toda a altura da alvenaria;
·
O
local de junta deverá permitir os movimentos para os quais foi projetada, para
isso é necessário o preenchimento com material indeformável.
·
Interrupção
em 50% da armadura horizontal na junta de controle;
·
As
barras da armadura e o graute podem ser contínuos no nível de pisos e
coberturas.
A NBR 15961-1 (ABNT-2011) acrescenta que deve
ser avaliada a necessidade de colocação de juntas verticais de controle de
fissuração em elementos de alvenaria com a finalidade de prevenir o
aparecimento de fissuras provocadas pelos mesmos motivos acima mencionados como
variação da temperatura, expansão, variação brusca de carregamento e variação
da altura ou espessura da parede.
As juntas devem ser utilizadas para painéis
de alvenaria contidos em um único plano e na ausência de uma avaliação precisa
das condições específicas do painel, devem ser dispostas juntas verticais de
controle com espessura máxima que não ultrapasse os limites da Tabela 9:
Notas
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1. A espessura mínima da junta de controle
pode ser determinada como 0,13% do espaçamento das juntas
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2. Os limites acima devem ser reduzidos em
15% caso a parede tenha abertura
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3. Os limites estabelecidos na tabela 10.1
podem ser alterados mediante inclusão de armaduras horizontais adequadamente
dispostas em juntas de assentamento horizontal desde que tecnicamente
justificado
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As fissuras causadas por detalhes
construtivos ocorrem por deficiências e incorreções na execução destes
detalhes, não sendo levadas em consideração as propriedades físicas dos
materiais, impermeabilidade e estanqueidade das alvenarias e das construções,
formas corretas de execução das alvenarias, projetos de detalhamentos, entre
outros.
Os projetos das alvenarias de vedação e
estruturais, incluindo os projetos para produção, devem apresentar, entre
outras informações, especificações que englobem os materiais de construção
necessários (blocos, traços de argamassas de assentamento e encunhamento, entre
outros); prever sempre que necessário ligações/juntas flexíveis e outros
detalhes semelhantes; e por último apresentar detalhes construtivos que
permitam que os diversos elementos da edificação se comportem de forma
harmônica, sem que um interfira no desempenho do outro.
Além disso, é fundamental o envolvimento da
obra no controle de execução e aceitação desses detalhes construtivos, pois
dessa forma pode-se evitar graves problemas futuros, muitas vezes com custos
elevados.
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